Vivências

“Torturei minha garotinha durante anos diz mãe sobre aceitação de filho transgênero” mais uma linda história de amor e superação

   “Quem assume sua verdade age de acordo com os valores da vida, mesmo enfrentando o preconceito e pagando o preço de ser diferente, passa credibilidade, obtêm respeito e se realiza.” Luiz Gasparetto

Após a loucura de confraternizações, comilanças e troca troca de presentes, chegamos enfim a 2017 e com ele novos horizontes para serem alcançados, preconceitos a serem vencidos…na minha busca por depoimentos de pais que venceram os próprios preconceitos, me deparei com o relato incrível da paraense Norma Coelli, publicado em seu facebook, sobre aceitar o filho transgênero … José Bernardo, hoje com 18 anos, que foi batizado de Letícia.

Foram palavras de tanta sensibilidade e profundidade que pedi sua permissão para transcrever aqui no blog, pois tenho certeza que irá ajudar outros pais. Permissão concedida, convido vocês a embarcarem nesse texto lindo que nos faz pensar nos obstáculos que nossos filhos irão enfrentar e que não precisamos ser mais um na vida deles; que nos faz perceber que ter o apoio, o reconhecimento e o respeito daqueles com quem convivem diariamente (principalmente os pais) faz toda a diferença durante o processo de aceitação; e, que nos faz, também, refletir acerca do que é mais importante: a felicidade dos nossos filhos ou o que os outros vão falar?

Gente, de coração… como fico feliz em ver uma mãe agir dessa forma, pois amar é justamente aceitar as diferenças. Obrigada Norma, pela coragem de dividir a sua história com o blog. Confesso que me emocionei com o seu texto e a sua disponibilidade e fiquei fortalecida para continuar a combater o preconceito e colorir mais o mundo.

Abaixo a íntegra da história da Norma Coelli e do José Bernardo, que viralizou nas redes sociais e que com certeza é, também, a história de muitas outras mães. Então, vamos lá…

“Torturei minha garotinha durante anos diz mãe sobre aceitação de filho transgênero.

Família e amigos, primeiramente quero avisar que é textão. Provavelmente o mais longo que já escrevi aqui. E é importante, de verdade, que vocês o leiam até o fim; mas o que vai importar no final é a reflexão que ele vai causar (eu espero que sim, por isso fiz questão de marcá-los aqui).
Vamos lá. Precisamos falar sobre o Bernardo.
Isso mesmo. José Bernardo, meu filho caçula, que praticamente todos conhecem há 18 anos. Ou pensam que conhecem. Afinal de contas, o que viram esse tempo todo foi uma garotinha marrenta e que adorava jogar futebol. E essa verdade era a que eu, covardemente, também tentava acreditar. Covardemente, pois sabia o quão complicada seria a vida do meu filho se o que eu via realmente acontecesse de fato. Bem, didaticamente vou falar como tudo começou, pra ficar mais fácil a todos: desde que Letícia nasceu, eu percebi que “ela” era diferente. Sabe o instinto de mãe? Pois é… Eu olhava aquela garotinha de bochechas rosadas no meu colo e não era ela que eu via! Isso é muito estranho pra mim até hoje, mas a pura verdade. Eu sabia, desde sempre, que a minha filha não era uma menininha!!! Então o que fiz? Mascarei isso o mais profundo que eu podia!!! Muitos lacinhos, babados, bonecas e afins! Depois aulas de balé pra aprender a ser “mocinha”… Daí vieram as sapatilhas, frufrus e o lindo mundo cor-de-rosa!!! E, por alguns anos, eu também acreditei no meu próprio “mundinho mágico” e achei que tudo era imaginação boba de mãe. Mas não era. Na verdade, eu apenas torturei minha “garotinha” por anos a fio!!! Sim, torturei. Esse é o termo. Mesmo na inocência da infância, Letícia não entendia o porquê de não poder se vestir como o irmão. “Ela” pegava as roupas dele escondido e saía pra brincar no condomínio, porque era assim que “ela” se via: igual ao irmão mais velho…
Na puberdade a coisa desandou… Pois começou a inevitável guerra hormonal, e “ela” se viu olhando meninas com outros olhos… E sendo amiga dos rapazes na mesma proporção!! Imaginem o drama na cabecinha pré-adolescente com isso!! Até que, aos 12 anos, “ela” me revelou o óbvio: que gostava de meninas. Então começam os rótulos que a sociedade impõe: minha “menina” era o quê? Lésbica? Gay? Homossexual? Bissexual? Eu sabia que o buraco era mais embaixo… Eu sabia desde o princípio! Então, gradativamente, “ela” começou a se libertar dos invólucros estéticos e começou a assumir seu verdadeiro eu; cortou os longos cabelos cacheados, passou a usar roupas de “menino” e várias outras coisas… E sabem o que aconteceu desde então? Eu vi, pela primeira vez, a essência verdadeira do meu filho!!! Enxerguei com todas as cores aquela pessoinha brilhando, feliz, liberta e confiante!!!
A verdade então, meus queridos, é que tenho um lindo e abençoado rapaz transgênero na minha vida!!! Muito amado por mim, por seu pai e seu irmão mais velho. Querido e respeitado por todos que o cercam, por ser uma pessoa inteligente, bom caratér e com um coração enorme!!! E que eu tenho muito orgulho de ter sido escolhida por Deus para o gerar, criar e educar. Sei o quanto ele é especial e o quanto vai fazer diferença no mundo daqui para a frente… Não vou me prender a explicações técnicas sobre a transgenia. Peço que leiam e se informem mais em sites idôneos, pois é uma questão clínica. E peço que divulguem esse texto, pois sei que muitos jovens sofrem imensamente com o descaso das famílias, e é importantíssimo saberem que não estão sozinhos no mundo. Sempre haverá alguém pra lhes apoiar e dar amor. Sempre.
Agora, família e amigos, o pedido mais importante de todos: comecem a tratar o meu pequeno rapaz pelo o que ele é: um rapaz!!! Um lindo, saudável e grande homem que, ao escolher o nome que vai carregar pela vida, não pensou duas vezes: JOSÉ, em homenagem ao seu amado avô, seu anjo da guarda agora, e BERNARDO, que significa “força de urso”. E é isso que esse rapazinho lindo da mãe tem: uma imensurável força de urso!!!! Então, oficialmente, seja bem vindo ao mundo meu príncipe lindo José Bernardo Oliveira de Souza!!!! Estarei contigo por essa e pela vida eterna…. Amo-te!!!! Amo-te e amo-te mais ainda!!!”

Foto arquivo pessoal: Norma Coelli

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